Ética da Paisagem

O Homem como parte integrante da Paisagem

O ser humano encontra-se expresso na Paisagem e esta mesma expressão encontra-se na questão ética.

O homem é considerado como parte integrante da natureza e deste modo deverá respeitá-la. Partindo de uma reflecção individual como cidadã e como profissional de arquitetura paisagista, a Paisagem constrói-se e regenera-se obedecendo a leis da natureza, onde o velho é substituído pelo novo, mas nunca igual ao velho. Acompanha o próprio tempo, não sendo inalterável. A paisagem é assumida como interface da natureza e da cultura, transmitindo um passado que deve ser mantido.

A construção da Paisagem deve assim ter em consideração o espírito do lugar – Genius Locci – sendo este um conjunto de características (linguísticas, arquitetónicas, ambientais e socioculturais) que determinam o local, organizando o espaço com fim de satisfazer a sociedade, proporcionando desta forma uma relação com o meio natural.

Com as novas tecnologias e com contemporaneidade presente nos dias de hoje, muitas vezes tenta-se inovar e esquecemo-nos desses aspetos e conjuntos de características das paisagens que são tão importantes para seus habitantes. É importante mantermos os traços históricos e culturais de cada paisagem e isso cabe a cada um de nós preservar e estar sensibilizado para estas temáticas.

A Ética, tradicionalmente, é compreendida como um estudo ou uma reflecção, científica ou filosófica, e contingentemente até teológica, sobre os costumes ou ações humanas. Esta pode ser o estudo dessas ações ou costumes, e pode ser também a própria realização de um tipo de comportamento.

A Ética da Paisagem e do Ambiente é algo um pouco mais complexo, pois estão envolvidas diversas questões e reflecções.

O aperfeiçoamento da Ética da Paisagem, na relação Homem-Natureza, reflete um conjunto de ações que caminham de mãos dadas para o desenvolvimento sustentável. O Ambiente, a Economia e as Ciências Sociais são as principais vertentes a considerar quando pensamos no desenvolvimento sustentável das nossas Paisagens e do Planeta Terra.

Ora vejamos…

Ambiente

A vertente ambiental associa-se à conservação e promoção dos valores e recursos ambientais naturais, reduzindo a escala de utilização e extinção de ecossistemas e habitats, à adequação dos tipos e da intensidade de uso dos recursos, à capacidade dos sistemas naturais e à respetiva capacidade de carga, bem como o investimento em informação e formação ambiental.

Economia

A vertente económica relaciona-se com a integração do ambiente e economia em todos os níveis de decisão, revendo objetivos e modelos de desenvolvimento, utilizando análises e distribuição justa de benefícios e custos económicos e ambientais do desenvolvimento, e com a evolução tecnológica e a alteração de processos produtivos, de consumo e redução da produção de resíduos através de aumentos de eficiência e mudança de estilos de vida.

Ciências Sociais

A vertente social está relacionada com a estabilização do crescimento populacional, generalização do bem-estar social, da educação, do acesso à informação e participação nos processos de decisão.

Contudo, o conjugar simultâneo destas três vertentes resulta não apenas num Sistema Ambiental Equilibrado, mas algo notavelmente mais amplo, envolvendo as sociedades como também os aspetos psicológicos de cada habitante da região.

O Homem deve “livrar-se” da lógica economicista (que constituem uma das principais fraquezas de um sistema de conservação da natureza) e deve promover o uso responsável da Terra, preservando sim valores económicos, éticos e estéticos, e, ao mesmo tempo, conciliá-los com o útil, o belo e o agradável/saudável.

A interiorização do conceito comunidade biótica, de Aldo Leopold, e dos valores éticos a ela associados levam a cabo o desenvolvimento desta “consciência ecológica”, que exigem que sejam feitas mudanças principalmente no conteúdo da educação direcionada para a conservação.

O homem deve ler as paisagens pondo em prática e desenvolvendo as suas capacidades cognitivas, espirituais, éticas e estéticas, de forma a conseguir desenvolver uma perceção que alcance para além do óbvio.

Nós seres humanos devemos tornar cada vez mais evidentes estes conceitos e ideias, pois o carácter ético das ações humanas são, sem qualquer dúvida, lidas na Paisagem.

Dejhenir Reis

Arquiteta Paisagista